Imagina-se que a ideia de “melhorar” as condições do espaço onde se vive vem desde os primórdios da humanidade, quando os homens das cavernas começaram a “ajeitar” as coisas no “ambiente”, para se sentirem mais “confortáveis”.
Essa introdução totalmente lúdica mostra que, de certo modo, o ser humano sempre esteve envolvido com as questões de melhorar as condições de morar. No Egito, Grécia, Império Romano, fica evidente como os recursos disponíveis na época eram utilizados com a finalidade de embelezar os ambientes e imprimir as características de seus usuários.
Mas, não vamos nos ater a fatos tão distantes. Foi a partir da Revolução Industrial, iniciado na Inglaterra e, depois, em toda Europa nos séculos XVIII e XIX, que possibilitou a produção em série de máquinas, mobiliários, objetos, acessórios, tecidos e centenas de outros produtos, que antes eram feitos em processo artesanal ou nem existiam. Esse movimento possibilitou uma democratização no ato de decorar, que antes era restrito apenas à nobreza, reis, rainhas da França, Inglaterra, entre outros soberanos.
A palavra Decoração tem origem na antiga Roma, Decoratione – mas seu conceito remonta aos egípcios. Sua história está atrelada à própria história do design, da arquitetura, do mobiliário das artes decorativas, dos aspectos sociais, econômicos, culturais e das artes em geral.
A industrialização ocorrida na Europa, a partir do século XVIII, gerou uma classe burguesa abastada, ansiosa por deixar transparecer sua prosperidade para a sociedade. Surgiram novas classes urbanas, compreendidas em diferentes níveis socioeconômicos, que se inspiravam nos modelos decorativos da nobreza. Esses modelos ostensivos e suntuosos despertaram nas classes emergentes o gosto pelo luxo.
A partir de meados do século XIX, a classe média urbana mobiliava e decorava suas residências com artigos de decoração produzidos em massa, como papéis de parede, tecidos, lampadários e mobiliário adquirido em lojas de departamentos ou pelo correio. Nas suas salas de estar buscava aparentar riqueza, conforto e formalidade. Utilizavam tapetes com padrões gráficos, texturas e padronagens em paredes e tetos; assentos generosos com molas, mobília ornamentada e coberta com verniz reluzente, e um grande número de enfeites, quadros e bibelôs.
Os estilos do mobiliário eram diversos, mesas barrocas misturavam-se com poltronas Luís XV e escrivaninhas neoclássicas. Em muitos casos, havia a presença dominante de um único estilo, por exemplo, o Neogótico ou o Neobarroco. Tudo era permitido nesse ecletismo, sendo o gosto do proprietário frequentemente submetido às regras efêmeras da moda.
Os critérios do “bom gosto”, lançados no século XIX, baseavam-se no culto a modelos estéticos do passado, buscando o clássico e o suntuoso, que dominaram a decoração durante várias décadas do século seguinte. A ostentação era comum nessas sociedades em reorganização, principalmente na Inglaterra, mas também nos Estados Unidos e na França. As preocupações com a aparência pessoal e com a moradia indicavam o status social dos indivíduos. Por outro lado, havia uma corrente no design de interiores, que era diretamente relacionada com as artes plásticas e buscava as referências na vanguarda da época.
No final do século XIX, a decoração tende a se tornar mais tangível para as classes menos abastadas no Primeiro Mundo. Mas é apenas a partir do século XX que ela passa a existir em larga escala, tornando-se uma verdadeira necessidade.
A Decoração no Brasil
Como quase todos os demais segmentos, a Decoração começou a prosperar no Brasil a partir da vinda da família real, no início do século XIX. A necessidade de manter o mesmo padrão de vida de Portugal fez com que a família ordenasse a vinda do mobiliário, tapetes, acessórios, tecidos, etc., num processo continuado, já que a colônia tinha poucas possibilidades de atender essa demanda e de conhecer os principais estilos de mobiliário que sempre formaram a base da decoração em outras partes do mundo. Portanto, nesta introdução histórica, é importante destacar a evolução da Decoração no Brasil, principalmente, do início do século XX, passando pelas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90, quando foi oficializada a denominação “Design de Interiores”, chegando aos dias atuais, com todo status que este importante segmento do Design tem nos dias de hoje.
Pioneiros
É difícil falar do pioneirismo na decoração no Brasil, porque, como já dissemos, a decoração sempre teve uma ligação muito estreita com as artes plásticas, o design de móveis e a arquitetura. Mas, entre os precursores, no eixo São Paulo / Rio, podemos destacar: Gregori Warchawchik, John Graz, Flávio de Carvalho e Lúcio Costa, (anos 20); Joaquim Tenreiro e Lina Bo Bardi, (anos 30); Zanine Caldas e Jorge Zalszupin (anos 40) Léo Seincman, Michel Arnaut, Sergio Rodrigues, Abraão Sanovicz, Karl Bergmille, ente outros, nos anos 50.
Na década de 1960, o arquiteto João Baptista Villanova Artigas, professor da Escola Politécnica, fez parte do grupo de professores que deu origem à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU). Tornou-se um dos professores mais envolvidos com os rumos desta nova escola: é de sua autoria o projeto de reforma curricular implantado na década de 1960 que redefiniria o perfil de profissional formado por aquela escola e foi responsável, junto ao arquiteto Carlos Cascaldi, pelo projeto da nova sede da Faculdade, um edifício localizado na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira que leva seu nome e sintetiza seu pensamento arquitetônico.
A reforma curricular desenhada por Artigas foi também importante ao definir uma série de novas possibilidades de prática e atuação profissional aos novos arquitetos, associando a eles áreas como o desenho industrial e a programação visual, a partir da crença de que tal profissional deveria participar ativamente no desenvolvimento de todos os processos industriais requeridos pelo projeto nacional-desenvolvimentista então em voga no país. Ainda nos anos 60, surge a primeira escola a oferecer um curso de nível superior numa área relacionada foi a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), fundada no Rio de Janeiro, em 1963.
Depois da segunda metade do século XX, vários artistas, designers de móveis, arquitetos e decoradores atuam na área, entre os quais podemos destacar: Geraldo de Barros, Miguel Forte, Roberto Aflalo, Julio Pechman, Toninho Noronha, José Chaves, Oscar Mikail, Janete Costa, Carlos Motta, Olga Kréll, Antonio Oliveira dos Santos, Germano Mariutti, Carolina Szabó, Ugo Di Pace, Jean-Claude Bailly, Terry Della Stuffa, José Duarte Aguiar, entre outros.
Até os anos de 1970, a contratação de um profissional top da Decoração era restrita às classes mais abastadas que, literalmente, “entregavam as chaves” nas mãos de profissionais conceituados, sem muita preocupação de quanto iriam gastar. Esses profissionais cuidavam de tudo; organização dos espaços com obras de arte, antiquários, estofados, cortinas, tapetes. Alguns nem apresentavam projetos nem conviviam com os clientes para descobrir suas preferências. Simplesmente decoravam os ambientes, impondo seus gostos e conhecimento.
É claro que havia também aquelas famílias ricas que contratavam profissionais que apresentavam um estudo, com o orçamento, especificações e conviviam com os clientes, para adequar os espaços às suas necessidades e gostos. Mas, ainda assim a Decoração ainda era privilégio de poucos.
Em proporção aos dias de hoje, os profissionais (a maioria homens) também eram poucos, pois, não havia formação técnica nem superior na área. Algumas escolas ofereciam cursos livres de Decoração de Interiores. A maioria desses profissionais era constituída de arquitetos, designers de móveis ou autodidatas.
Na área comercial, poucas empresas e escritórios se preocupavam em elaborar os espaços com conforto, ergonomia, bem estar do usuário e o requinte que as empresas e escritórios têm hoje em dia. Nesta época poucos profissionais de arquitetura se envolviam com a decoração por considerarem como algo inferior à arte de projetar. Também eram raras as interferências do decorador na arquitetura dos ambientes, como troca de pisos, bancadas, etc. Sua tarefa principal era decorar o ambiente obedecendo à arquitetura existente. Alguns, no entanto, eram também designers de móveis e criavam peças especialmente integradas com a decoração.
Os anos 80 foram a década dos grandes decoradores, muitos deles arquitetos já veteranos (alguns já citados anteriormente) e uma nova geração que surgia. Entre eles destacamos: Léo Shehtman, Oscar Mikail, Brunette Fraccaroli, Bya Barros, Francisco Cálio, Gigi Guzzo, Débora Aguiar, Fernando Piva, Sérgio Athé, Roberto Negrete Joia Bergamo, Teresinha Nigri, Denise Barreto, Ana Maria Vieira Santos, Artur Casas, Carlos Rossi, David Bastos, Fernanda Marques, João Armentano João Mansur, Roberto Migotto, Sig Bergamin, Moema Wertheimer, Eduardo Fernandes Mera, Marcelo Rosembaun, entre outros.
Em 1980, é fundada a ABD, Associação Brasileira de Designers de Interiores, (inicialmente chamada de Associação Brasileira dos Decoradores e Arquitetos), com o intuito de agregar a categoria, estabelecer normas para os exercícios da profissão e do mercado, definir o currículo básico para a formação do decorador e defender a categoria, entre outras atribuições importantes. A ABD é filiada da IFI – International Federation of Interior Architects Designers, com sede em Montreal, no Canadá e a principal instituição da categoria no Brasil.
O termo “design de interiores” é relativamente novo no Brasil. Surgiu na década de 1980. Até essa época a área era conhecida como “Decoração”, alguns chamavam de “Arquitetura de Interiores”. O mercado era dominado por profissionais do sexo masculino, arquitetos, designers de móveis e autodidatas. Esse profissional é dotado de grandes conhecimentos sobre arte, estética, tecido, mobiliário, antiquário, revestimentos, distribuição das peças e obras de arte e também promove reformas nos ambientes, com especificações de materiais, adequando-os ao estilo da decoração e às necessidades dos seus clientes.
Em 1987, surge a CASA COR, inicialmente em São Paulo e depois se espalhando para diversas Capitais A criação da mostra surgiu quando a brasileira Yolanda Figueiredo e a argentina Angélica Rueda, durante uma viagem a Buenos Aires, se encontraram com seus amigos Javier Campos Malbrán e Ernesto Del Castilho, que fizeram a proposta de organizar um evento de decoração no Brasil. CASA COR teve início no Brasil com a realização da primeira edição em uma residência, no bairro do Jardim Europa, em São Paulo. Na ocasião, 22 ambientes foram decorados por 25 profissionais e visitados por cerca de sete mil pessoas. A partir daí, a mostra não parou mais de crescer e se tornou referência nacional e internacional de bom gosto e inovação, influenciando formadores de opinião e agregando valor às marcas as quais se associa.
Uma empresa do Grupo ABRIL, CASA COR é hoje reconhecida como a maior mostra de arquitetura e decoração das Américas, o segundo maior evento do mundo. Em 2011, mais de seiscentas mil pessoas visitaram CASA COR no Brasil e na América Latina. Os eventos CASA COR contam sempre com o apoio de prefeituras e governos locais e já se tornaram oficiais nos calendários das cidades onde estão presentes, movimentando o mercado e proporcionando oportunidades para empresas e profissionais. No total são dezenas de eventos realizados pela CASA COR, cumprindo um calendário de janeiro a dezembro.
Em todas as suas edições, renomados arquitetos, decoradores e paisagistas reinventam espaços, modificando-os livremente, com o compromisso de criar um ambiente inovador, atraente, sustentável e de muito bom gosto. O resultado é um evento que possibilita aos visitantes a experiência única de desfrutar a exposição de novidades em decoração, design, peças, materiais, tecnologia e equipamentos de altíssimo nível, para que vivenciem um momento de sonho e bem estar. As inúmeras opções de compras e lazer integradas, tais como lojas, restaurantes, cafés, galerias, serviços e entretenimento para toda a família, permitiram à CASA COR atrair um público visitante em volumes recordes.
Atualmente, CASA COR possui mais de 20 franquias, sendo 18 nacionais (Amazonas, Bahia, Brasília, Campinas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e quatro internacionais: Chile, Panamá, Peru e Punta del Este.
Em 1997, a Deca, uma das mais conceituadas empresas brasileiras do ramo de louças e metais sanitários, lança os Prêmios “Um Sonho de Banheiro”, voltado para profissionais de arquitetura e Design de Interiores e “ “Estudos de um Banheiro”, dirigido à estudantes de cursos Técnicos e Superiores de Design de Interiores e Arquitetura. Estes prêmios se tornaram referencias e ajudaram a destacar este importante ambiente da casa que, até então, era usado apenas para as necessidades fisiológicas. Hoje, o banheiro é um lugar de relaxamento, descanso, leitura e prazer.
Vários fatores contribuíram para a grande evolução ocorrida na área, a partir dos anos 80; novas tecnologias e materiais; abertura das importações; conscientização dos empresários em oferecer conforto, praticidade, bem estar e segurança aos seus clientes; certa democratização da decoração, que ficou viável a um número maior de famílias; mudanças de comportamento, especialmente nas relações conjugais, que possibilitaram novos perfis de clientes que voltaram à vida de solteiro; aumento da expectativa de vida. As pessoas percebem que, em muitos casos, a contratação de um profissional, poderia minimizar os custos, com soluções inteligentes.
No final da década de 1990, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), na gestão de Paulo Renato de Souza, instituiu o curso de Nível Técnico em Design de Interiores. Para tanto, convidou a Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), na gestão da conceituada Designer de Interiores, Carolina Szabó, que por sua vez convocou as principais escolas de arte e design, que ofereciam cursos livres de Decoração de Interiores na época para colaborarem na formatação dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico, do curso de Nível Médio em Design de Interiores, Área de Design, que tem validade em todo o território nacional. Vários professores e coordenadores de escolas colaboraram nesse processo e o fechamento do currículo nacional coube a uma equipe formada pela representante do MEC, Zélia Sarraf; o diretor geral da ABRA – Academia Brasileira de Arte, Laerte Galesso; o diretor da Escola Panamericana de Arte Alexandre Lipszyc; o Coordenador desta área no Senac/SP, Maurício Jordão e também a coordenadora de educação da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), a professora argentina Ana Maria Piemonte.
Este trabalho, as bases curriculares de formação, com as Bases Tecnológicas e Habilidades e Competências, bem como as principais funções do profissional de Nível Técnico. Fica estabelecido que cada escola deverá adotar pelo menos oitenta por cento do currículo aprovado, ficando cada instituição livre para completar os vinte por cento restantes com as matérias a seu critério.
Hoje, o Designer de Interiores tem uma abrangência bem maior do que o Decorador tinha no passado, pois desenvolve e executa projetos voltados para áreas internas de residências, comercio, indústrias, embarcações, veículos, etc., com elaboração de plantas, elevações e perspectivas de apresentação ao cliente e também especificações de produtos, orçamentos, contratação de profissionais e empresas para a execução dos trabalhos sob sua supervisão, entre outras atividades.
Fontes: – História da Decoração de Interiores – Andrea Hermitt (trad. Rita Pacheco);
– A História da Decoração – Simone Quintas – Casa e jardim
– Decoração de Interiores – Ana Lúcia Santana
– História + Decoração – Artesiva
– Por que Decorar?- Josino Moraes
– 5 Décadas de Decoração no Brasil – Bell Krans – Casa e Jardim
– A Evolução da Decoração no Brasil – Priscila Gomes
www.abra.com.br