O rosa queimado, conhecido como millennial pink, ganhou espaço novamente no mundo da moda, decoração e design. Associado à nostalgia e à vontade entre os jovens de permanecer nesta fase da vida e amadurecer sem pressa, a cor remete a boas memórias da infância, fazendo da tonalidade a nova sensação do momento.
No mundo criativo, o debate ainda é mais amplo. A Pantone elegeu o Greenery como cor de 2017 e era esperado que o tom rosáceo de 2016 fosse saindo de cena, mas o que aconteceu foi o inverso. Assim, ficou claro que não basta usar a cor do ano anunciada pela Pantone ou reproduzir as tendências do momento. O importante é desenvolver em conjunto com as demandas sociais. É o design se aproximando do cotidiano.
“Ele se emancipou de forma audaciosa e tomou conta de vários meios”, explica Lili Tedde, que representa a über trendhunter Li Edelkoort no Brasil.
Essa emancipação, inclusive, surge com carga política para ressignificar o rosa. Antes polarizador, sinônimo do universo feminino e sua alegada doçura, passa, para a geração Millennium, a ter certa carga irônica e a ser o estandarte do genderless (ou agênero em português) e da fluidez sexual, movimentos relacionados com o feminismo, com a luta pelos direitos LGBT e com a flexibilização dos conceitos de masculinidade. O uso rebelde do rosa, em parceria com o azul claro, tornou-se onipresente na plataforma da rede social Tumblr e coloriu com suavidade os movimentos artístico-digitais Seapunk e Vaporwave, nascidos em 2011, como mostra uma reportagem do site Loki Design.
No mundo criativo, os tons associados ao Millennium Pink vêm aparecendo há mais tempo, como mostra a New York Magazine em uma completa linha do tempo. “Ele pode remeter ao universo cosmético, saindo do blush e invadindo a moda e, posteriormente, o lifestyle“, completa Lili Tedde. “Com o tempo ele se tornou mais envelhecido e elegante, mais sofisticado e um pouco mais pastel”.
A nostalgia ajudou que o tom se solidificasse. A volta das referências dos anos 1980, 1990 e do começo dos anos 2000 trazem o rosa imortalizado por Ettore Sotsass em seu movimento Memphis, os frufrus de Patricinhas de Beverly Hills e o universo pink te Paris Hilton. Os tons dessaturados do art déco também ressurgem com ares do passado, como no róseo Hotel Budapeste de Wes Anderson, lançado em 2014. E tudo isso é ressignificado, hoje, no Instagram.
Talvez seja muito cedo para dizer, mas parece que o Millennial Pink não pretende deixar o inconsciente coletivo tão cedo. “É difícil saber até quando ele permanecerá, mas todas as vezes que Li Edelkoort cria suas cartelas de cor, acha difícil deixá-lo de fora”, finaliza Lili Tedde. ” Talvez estejamos precisando dele. Vivemos em um mundo tão maluco que é necessário esse clima mais mais naive…”
Links Externos:
https://www.lokidesign.net/journal/2016/2/22/the-propaganda-of-pantone-colour-and-subcultural-sublimation
http://nymag.com/thecut/2017/03/why-millennial-pink-refuses-to-go-away.html
https://www.wmagazine.com/story/paris-hilton-interview
http://casavogue.globo.com/Interiores/Ambientes/noticia/2017/05/millennial-pink-entenda-por-que-o-rosa-e-cor-mais-pop-do-momento.html